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In this new series by YoursPorto, we want to bring the local population onto the stage to get a little closer to the true soul of the city. We’ll be talking to people who not only were born here but also benefit from the city’s spirit to create something special from it.

To start this series we’ve invited Afonso Hargreaves Curval, born and raised in Porto, a philosophy master’s degree from FLUP, teacher and writer. His first book “Porto à Noite” was independently published in December 2022 and caught our attention for obvious reasons. The book follows the life of Artur during his university years in Porto through a compilation of short stories. Within these pages we become witnesses to the character’s nighttime adventures with his friends and, of course, his growth and development in the realm of passions. With bold and paradigm-free writing, the author brings a new perspective to contemporary Portuguese literature. Intrigued? Check out the small talk we had with Curval:

Tell us, how did your passion for literature begin and why did you decide to start writing?

Regarding literature I’m not sure if I can say it began with a passion, so to speak, but there was a kind of compulsion towards literature when I was 18. It was at a very specific time in my life and it seemed to me that I could find answers there that were essential to me at that time. Examples of how to deal with life, I guess I can say that. The authors who captivated me the most were those who wrote closest to life, about everyday life, without great embellishments. The Americans from the first half of the 20th century and the pre-revolutionary Russians, for example. They were types who wrote very close to the skin and it was a different type of literature from what had been given to me in school. It was fun to read, it concerned me. It wasn’t something distant. In my 20’s, I started writing and – at the risk of sounding dramatic – I’ll say it was a necessity. It was a very effective solution for my life, so to speak. And that’s it, I haven’t stopped since then.

What is your perspective on modern Portuguese literature, and how would you like to contribute to it?

I’m not sure if I have the knowledge to speak about contemporary Portuguese literature. I’ve always read more foreign literature than Portuguese. The type of writing I like is very specific, but I can throw out a few contemporary names that have influenced me like: Henrique Vila-Matas, Maria Gaínza, Pedro Juan Gutiérrez. They are all authors who blend essays with short stories, chronicles and autobiography. Ultimately, they blur those lines and I was looking for that to free myself from those constraints, and they ended up helping with that. There are many others, of course, but those are the ones that come to mind, especially these living ones. Reinaldo Moraes as well. And a lot that comes from Brazilian literature, they have a way of using language that is much more modernized than ours. My contribution is to write what I would like to read. The book I would most like to read is the one I wanna write.

Now let’s talk about “Porto à Noite” which brought us here. Why did you choose Porto as a scenario for your book?

[laughs] That’s a good question. I always look for unity in my writing, it’s a kind of compulsion. I really like short narratives but I needed something to connect the stories in this book. Porto ended up working as that center of gravity and, in this specific case, Porto by night.

And do you plan to write more books that would have Porto as a scenario?

Yes. “Porto à Noite” is part of a trilogy. It all revolves around the city. I already have the second one ready. Let’s see if it comes out this year…

Can you feel that Porto is almost like a character in your book, if so, how would you describe it?

[laughs] Another good question. I never thought of it that way. But yes, there’s a kind of implicit dialogue between the protagonist and the city. Ultimately, it’s that dialogue that everyone has when they walk alone down the street and are inside their thoughts. The street ends up being our witness, keeping us company with our consciousness. With the soul, if you prefer. I like that relationship, it speaks to me a lot.

What feelings can readers find in “Porto à Noite”?

I have no idea! [laughs] I like to think of two types of readers (not that these labels are of great value [laughs], but I like this exercise): those who seek alienation in literature and those who seek identification. I’ve always been the second type. If they read the book and have fun and it resonates in some way in their own life and experience: that’s a victory. If they enjoy reading it, that’s the biggest victory.

Is there a specific place in the city that inspires you and that you would recommend to our followers to visit?

There are many. I could stay here all day. But I’ll be opportunistic and say Mira Fórum, where I launched the book and will return on the 26th for the presentation of “Homero também passou por isto,” a poetry book. It’s a very interesting space here in Porto, dedicated solely to the cultural scene, but in a more informal way, without big institutional fuss.

Was it possible to feel the spirit of Porto with this interview? There’s much more! We thank the author for his time and wish him all the success in sharing even more of our city’s vibe with the world. For those interested in ordering his books, you can do it through his Instagram @afonsohcurval.

Earlier this year, Afonso Hargreaves Curval won the “Contemporaneíssimos” literary contest at the Lisbon Poetry Festival and his first poetry book “Homero também passou por isto” was released by Helvetia Editions. For those interested, on April 26th at 9:30 PM, the author will be at MIRA Fórum to present his poetry book. And don’t think you’ll have a normal or boring presentation (that’s not something Curval is known for – say his readers), so save the date and have a unique and fun poetry night!

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PT


YoursPorto em: Entrevistando locais

Nesta nova série da YoursPorto queremos trazer a população local para o palco para nos aproximarmos um pouquinho mais da verdadeira alma da cidade. Falaremos com pessoas que não só nasceram aqui, mas que também beneficiam-se do espírito da cidade para criar algo especial a partir dela.

Para iniciar esta série chamamos Afonso Hargreaves Curval, nascido e criado no Porto, é mestre em filosofia pela FLUP, professor e escritor. Seu primeiro livro “Porto à Noite” foi publicado autonomamente em dezembro de 2022 e chamou a nossa atenção por motivos óbvios. O livro acompanha a vida de Artur durante o período universitário na cidade do Porto através de um compilado de contos. No conjunto dessas páginas nos tornamos testemunhas das aventuras noturnas do personagem e seus amigos e, claro, seu crescimento e desenvolvimento no domínio das paixões. Com uma escrita audaz e livre de paradigmas, o autor traz em “Porto à Noite” uma nova perspectiva à literatura portuguesa contemporânea. 

Ficou curioso? Veja agora a pequena conversa que tivemos com o autor:

Conte-nos, como começou sua paixão pela literatura e por que você decidiu começar a escrever?

Quanto à literatura não sei se posso dizer que começou numa paixão, por assim dizer, mas houve uma espécie de compulsão à literatura que se deu pelos meus 18 anos. Foi numa época bastante específica na minha vida e parecia-me que podia encontrar aí respostas que pra mim eram essenciais nessa altura. Exemplos de como lidar com a vida, acho que posso dizer assim. Os autores que mais me cativaram foram aqueles que escreviam mais próximos da vida, sobre o cotidiano, sem grandes floreados. Os americanos da primeira metade do século XX e os russos pré-revolucionários, por exemplo. Eram tipos que escreviam muito colados à pele e era um tipo de literatura diferente daquela que me tinha sido dada na escola. Era divertida de ler, dizia respeito a mim mesmo. Não era uma coisa distante.

Aos 20 anos comecei a escrever e, sob o risco de parecer dramático, vou dizer que foi uma necessidade. Foi uma solução muito eficaz para a minha vida, por assim dizer. E pronto, desde aí não parei.

Qual a sua perspectiva para a literatura portuguesa moderna e de que forma gostaria de contribuir para ela?

Não sei se estou munido do conhecimento que me permita falar da literatura portuguesa contemporânea. Sempre li mais literatura estrangeira que portuguesa. O tipo de escrita que gosto é muito específico, mas posso atirar alguns nomes contemporâneos que me influenciaram: Henrique Vila-Matas, Maria Gaínza, Pedro Juan Gutiérrez. São todos autores que fundem o ensaio com o conto, a crónica e a autobiografia. No fundo esbatem essas linhas e eu estava à procura disso para me libertar dessas amarras, e eles acabaram a ajudar nisso. Há muitos outros, claro, mas das naturezas vivas lembro-me agora e sobretudo desses. Reinaldo Moraes também. E muita coisa que sai da literatura brasileira, [eles] têm um modo de usar a língua que é bem mais modernizado que o nosso.

O meu contributo é escrever aquilo que eu gostaria de ler. O livro que eu mais gostaria de ler é aquele que quero escrever.

Agora vamos falar do Porto à Noite, que nos trouxe até aqui. Porque escolheu o Porto como cenário do seu livro?

[risos] Essa é uma boa pergunta. Eu procuro sempre unidade na minha escrita, é uma espécie de compulsão. Gosto muito da narrativa curta mas precisava de algo a ligar os contos no livro. O porto acabou por funcionar como esse centro de gravidade e, nesse caso específico, o Porto à noite.

E pretende escrever mais livros que tenham o Porto como cenário?

Sim. O Porto à noite faz parte de uma trilogia. Toda ela revolve à volta da cidade. Já tenho o segundo basicamente pronto. Vamos ver se ainda sai este ano…

É possível sentir que o Porto é quase como uma personagem do seu livro, se sim, como o descreveria?

[risos] Mais uma boa pergunta. Nunca pensei desse modo. Mas sim, há uma espécie de diálogo implícito entre o protagonista e a cidade. No fundo é aquele diálogo que toda a gente tem quando caminha sozinha pela rua e vai nos seus pensamentos. A rua acaba por ser a nossa testemunha, por fazer companhia à consciência. À alma se se preferir. Eu gosto dessa relação, diz-me bastante.

Que sentimentos os leitores podem encontrar no Porto à Noite?

Não faço ideia! [risos] Eu gosto de pensar em dois tipos de leitores (não que estes rótulos sejam de grande valor [risos], mas gosto deste exercício): os que procuram alienação na literatura e os que procuram identificação. Eu sempre fui do segundo tipo. Se lerem o livro e se divertirem e aquilo ressoar de algum modo na sua própria vida e experiência: é vitória. Se sentirem prazer enquanto leem, já é a maior vitória.

Existe algum lugar específico na cidade que te inspire e que você recomendaria aos nossos seguidores para visitar?

Há muitos. Podia ficar aqui o dia todo. Mas vou ser oportunista e dizer o Mira Fórum, onde fiz o lançamento do livro e volto para o dia 26 para apresentação de “Homero também passou por isto”, de poesia. É um espaço muito interessante cá do Porto, dedicado só à cena cultural, mas de um modo mais informal, sem grandes tretas institucionais. 

Foi possível sentir o espírito portuense com essa entrevista? Há muito mais! Agradecemos ao autor pelo seu tempo e desejamos-lhe todo o sucesso para partilhar ainda mais a vibe da nossa cidade para o mundo. Para quem quiser encomendar seus livros pode fazê-lo através do seu instagram @afonsohcurval

No início deste ano, Afonso Hargreaves Curval venceu o concurso literário “Contemporaneíssimos” do Festival de Poesia de Lisboa e seu primeiro livro de poesia “Homero também passou por isto” foi lançado pela Editora Helvetia. Para quem tiver interesse, no dia 26 de abril às 21h30, o autor estará no espaço MIRA Fórum para apresentar “Homero também passou por isto”. E não pensem que vão ter uma apresentação normal ou aborrecida (isso não é algo pelo qual Curval é conhecido – dizem os seus leitores), por isso marquem a data no vosso calendário e tenham uma noite única e divertida de poesia!

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